domingo, 29 de maio de 2011

Um domingo como outro qualquer



Domingo em clima tropical, calor, chuva, sol e nuvens.
Uma família sai sozinha, apenas 4, como há anos não acontecia e vai, simplesmente, passear por Lisboa.

Almoço no restaurante "Sea Me". Nada desilude, nada enjoa, tudo pede repetição. Desde o choco frito com tinta, às pataniscas ninja, às vieiras com molho de manga...! Vinho branco fresco e ambiente confortável, moderno, mas português ao mesmo tempo! (e o preço não incomoda muito a crise!)

Saídos dali, descida até à gelataria Santani para terminar o almoço com um gelado como sobremesa. 4 gelados todos diferentes, qual deles o melhor? (constataçã: limão e chocolate não é melhor que morango e chocolate!)

Porque ninguém queria parar, subida até ao Largo do Carmo, espreitadela até ao elevador de Santa Justa e depois visita ao Quartel do Carmo.

100 anos de GNR deram direito a um passeio pela história, com direito a ver a cadeira onde Marcelo Caetano "esperou" no dia 25 de Abril de 1974 e uma excelente vista sobre o Rossio.


Como ainda não chegava de passeio, continuação pelo Chiado, subida a Calçada do Combro e, com todos já mais cansados (pelo menos uma), chegada ao miradouro do Adamastor. Conversas à sombra, num banco com vista para o rio, até que o vento fez desistir.

Porque a companhia continuava a apetecer, passeio de carro pela marginal, com vista para o mar, sem rádio, só conversa e, passado uns minutos, direito a uma sesta, encostada no banco do carro, à moda antiga, só acordada mesmo à porta casa. (Se fosse uns anos antes, daria direito a ser levada ao colo!)

Domingo tranquilo, companhia ideal, vistas perfeitas e fim de dia retemperador... como tanto (ainda) se precisa!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dois filmes - árvores e cegueiras


A Árvore da vida e o Ensaio sobre a cegueira. Dois filmes muito esperados, finalmente vistos.


Falando do primeiro: demasiado lírico, poético... parado, porque não admitir!


O que lhe quiserem chamar, é escolher!


Ante-estreia cheia de famosos. Cinemateca com a esplanada mesmo a saber bem, cerveja fresca, uma bela tosta e a ânsia pelo filme.

Brad Pitt e Sean Penn, só eles seriam motivo bastante para ali estar.
Mas desenganem-se os que acham que os dois excelentes actores chegam para nos manter acordados, animados...



Findo o filme - numa sala excelente e a um preço fantástico de €2,5 - não houve posição unânime sobre o tema.


De que trata? Famílias, Deus, perda, morte? Tem momentos muito bonitos, imagens que fazem quase suspirar, mas usa e abusa do abstracto, deixando a cada um de nós demasiadas dúvidas, demasiado para divagar... talvez seja esse o objectivo.


Cada um de nós lida de forma diferente com a família e a perda. Cada um encontra as suas soluções. Talvez. Fica a divagação, ficam as imagens bonitas e o não saber, ainda, se se gostou ou não.

Ensaio sobre a cegueira.


Começando de pé atrás: livro demasiado apreciado, seria o filme minimamente justo?


Sabendo que o José Saramago chorou no fim, seria, à partida, um bom prognóstico.


Não desiludiu.


O livro foi lido há mais de 10 anos e a cada novo desenrolar as imagens do livro apareciam.


Os actores sem nada a apontar, a violência lá, explícita, mas claramente inferior à criada pela imaginação (com direito, na altura, a pesadelos!).


Mas quando o filme acaba, quando todo o caos amaina, assentimos naquilo: que não vemos as coisas, que nunca abrimos bem os olhos.


E como por lá se diz:
"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."






sexta-feira, 20 de maio de 2011

O amor é um lugar estranho



Porque o amor é um lugar estranho... vi o Lost in Translation.

Chegada a casa com uma dor de cabeça que teimava em não desaparecer, há que animar a alma e ver coisas bonitas. Revisto anos depois, deixa, no fim, um sorriso na boca, nem que seja por esta afirmação "tão simples":


Charlotte: I just don't know what I'm supposed to be.
Bob: You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you.


Espero mesmo que sim!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Chuva de fim de tarde



Ontem choveu. Trovejou.


Saída de um destes escritórios da capital, de uma sala quente e cheia de papel, pus o pé na rua e as pingas passaram de leves a grossas.


Em clima tropical, não se fugiu à chuva e era ver lisboetas que não fugiam, nem corriam, outros até sorriam e todos se deixavam quase ali ficar, não apressando o passo, a sentir as gotas na cara, na roupa, nos braços destapados.


No meio do jardim do Campo Pequeno, cheirava a campo, a relva molhada e uma mulher, com menos roupa que eu, cruzou-se comigo e sorriu-me. Cumplice. Retribuí.


Apeteceu-me ainda demorar mais, andar ainda mais devagar.


Olhei em volta e vi que ninguém se parecia sequer importar, não havia chapéus abertos, apenas gente de calções, saias e até sandálias, que caminhava à chuva, cada vez mais grossa.


Não, não fui à Avenida da Liberdade, não tomei nada fresco.


A frescura veio daquele fim de tarde, que se tornou uma noite de tempestade, nesta cidade de Lisboa, mas que trouxe, pelo menos a uma lisboeta, uma sensação que há muito não sentia.


domingo, 15 de maio de 2011

A lisboeta anda...




Vivo no meio desta cidade. Saio aos meus e ando (e ando e ando e ...) para arejar a cabeça, para ver a cidade, para fazer exercício!

Vou a pé para todo o lado e resisto, todos os dias, a meter-me no metro, a pegar no carro ou a pedir boleia.

Agora que o sol espreita (e queima), ganha-se coragem para vestir, por vezes, um vestido e, simplesmente, sair e andar.


Esta lisboeta aproveita e vai destas "avenidas novas" até à feira do livro, onde se arrisca a comer uma fartura como jantar, passeia na Avenida de Roma, de ipod nos ouvidos, e se vê as montras, os cães e os raros lisboetas que preferem as ruas ao centro comercial.


E após uma caminhada, janta por ali perto, bebe café numa esplanada onde já a conhecem e promete voltar no dia seguinte.

Viver no centro da cidade é isto. É haver recantos que são cosmopolitas, mas que, com os dias, as horas, os passeios se tornam um pequeno lugar, uma pequena comunidade e nos fazem sentir quase em casa.

E quando a vontade nos faz (ou precisamos de) ir mais longe, apanha-se mesmo o metro e segue-se, rua fora, até onde ele não chega.

Vai-se, por exemplo, pela Rua dos Caminhos de Ferro até ao Clube Ferroviário, onde se pode jantar ou lanchar, com vista para a outra margem (mas não beber café a seguir ao almoço, já que fecha) ou, se ali não der, a uma esplanada, mesmo ali perto, na bica do sapato: deli delux.


E com vista para o rio, com vista para coisas bonitas, recupera-se da caminhada, bebe-se uma cerveja (ou duas, ou três) e aprecia-se, bem acompanhada, mais um recanto lisboeta.

E agora, findo mais um dia num escritório de uma avenida lisboeta lisboeta, vai aceitar-se uma excelente sugestão e ir à Avenida da Liberdade, ver os novos quiosques e beber qualquer coisa fresca!

A decisão que agora resta é apenas uma: vamos a pé ou não!?

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Acordar



Ontem, numa sala em tons de vermelho, mesmo no centro desta nossa cidade, uma lisboeta (re)aprendeu que se pode partir de algo que alguém já escreveu, pintou ou disse para se inspirar.
A escrita criativa pode se isso mesmo, aprender com o que se vive ou viveu, mas também com os outros. Escrever porque se aprendeu com alguém.

Aqui fica um poema que uma lisboeta gostava de ter escrito, porque reflecte exactamente o que sente e que a inspira muito.

Acordar
Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras,
Acordar da Rua do Ouro,
Acordar do Rocio, às portas dos cafés,
Acordar
E no meio de tudo a gare, que nunca dorme,
Como um coração que tem que pulsar através da vigília e do sono.

Toda a manhã que raia, raia sempre no mesmo lugar,
Não há manhãs sobre cidades, ou manhãs sobre o campo.
À hora em que o dia raia, em que a luz estremece a erguer-se
Todos os lugares são o mesmo lugar, todas as terras são a mesma,
E é eterna e de todos os lugares a frescura que sobe por tudo.

Uma espiritualidade feita com a nossa própria carne,
Um alívio de viver de que o nosso corpo partilha,
Um entusiasmo por o dia que vai vir, uma alegria por o que pode acontecer de bom,
São os sentimentos que nascem de estar olhando para a madrugada,
Seja ela a leve senhora dos cumes dos montes,
Seja ela a invasora lenta das ruas das cidades que vão leste-oeste,
Seja

A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas...
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara...
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Siringe fugindo aos braços estendidos de Pã,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.

Eu adoro todas as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreendê-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às máquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.

Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.
Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras,
Não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo
Do que as que vi ou verei.
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.

Dá-me lírios, lírios
E rosas também.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também,
Crisântemos, dálias,
Violetas, e os girassóis
Acima de todas as flores...

Deita-me as mancheias,
Por cima da alma,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Meu coração chora
Na sombra dos parques,
Não tem quem o console
Verdadeiramente,
Exceto a própria sombra dos parques
Entrando-me na alma,
Através do pranto.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palácios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.

Por isso, não te importes com o que eu penso,
E muito embora o que eu te peça
Te pareça que não quer dizer nada,
Minha pobre criança tísica,
Dá-me das tuas rosas e dos teus lírios,
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Num bar de esquina...





O Cockpit é um pequeno bar de esquina, na Av. Sacadura Cabral, daqueles em que o dono e os empregados já nos conhecem e nos dizem "olá, tudo bem!?" e ainda só lá fomos umas 4 ou 5 vezes.




É um bar em que se pode ficar cá fora, na pequena esplanada, num ambiente sossegado, como quem não quer a coisa, numa avenida lisboeta e acompanhar as cervejas e as excelentes caipirinhas com tremoços e amendoins.



Mesmo perto da janela onde o durmo, mesmo a 20 metros da porta onde agora entro e saio todos os dias, tenho um bar onde posso simplesmente sentar-me, beber um copo de vinho, estar na esplanada e pôr a conversa em dia.




E mesmo que já vá algo trôpega para casa - dado o adiantado da hora, apenas, ou da companhia que nos baralha com as ideias extraordinárias - basta seguir seguir em frente e estou, 2 minutos depois, já em casa!




É por isso que é bom viver num bairro lisboeta, cosmopolita, daqueles em que há mercearias, minimercados, lojas de brincos (giríssimos) e um bar (simples, normal) em que a companhia faz toda a diferença!