terça-feira, 25 de setembro de 2012

ideiais tão perto

estou aqui, estou mesmo aqui.
agora que todos por aí se reúnem em demandas que (me) pareciam esquecidas.
há dias, numa esplanada de Barcelona, expliquei e relatei como cresci com ideais bonitos na cabeça.
que se lutarmos o mundo é melhor.
que todos somos iguais.
que o povo unido pode tudo.
contei que sempre ouvi tudo, discuti tudo, admirei pessoas e li livros. expliquei como foi e como percebi, por fim, o que devia ter sido.
contei que mais de 30 anos depois, e depois dos meus 30 anos, me desiludi.
Valores, os bonitos, os da luta, estavam esquecidos ou acomodados.
e agora estou aqui, estou mesmo aqui, e o meu país insurge-se, finalmente.
quando a classe política me desilude, me incomoda, ouço-vos gritar, cantar, pedir e exigir.
deixam de estar escondidos, perdem a vergonha, largam o comodismo.
agora que estou aqui, mesmo aqui, explico de orgulho na voz que os meus ideais, já não fantasmas, ganham corpo, e mesmo a mais de mil quilómetros de distância, sinto-me tanto aqui como aí!  


sábado, 22 de setembro de 2012

flamenco e utopia!

sentada, nem pensar.
quieta, muito menos.
os pelos dos braços arrepiados, os pés a bater no chão, o sorriso permanente.
flamenco!
perfeito, coordenado, com paixão, com calor, com sentimento, com gritos que saem dos pés, das mãos, das pernas e dos peitos.
é impossível que se encoste na cadeira da sala de espectáculos. em vão, tenta comportar-se, não se contém e diz em voz alta os mesmos aplausos que bate com as mãos.
flamenco!
levanta-se quando os bailarinos se aproximam, bate palmas sem o ritmo que eles ainda trazem nos cabelos transpirados, nas camisas desfraldadas e nos sorrisos ainda com som.
sai da sala, para a cidade em festa, segura e certa, que vai aprender aquela dança vermelha, quente, que é também a Barcelona que agora em si soa.  

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

cama com cheiro a móvel sueco

deita-se na cama nova que ainda cheira à loja de moveis suecos.
a primeira cama era baixa e cheirava aos mais de 50 anos que tinha. era a cama de criança, mas já vinha de muito antes.
mais tarde, deitava-se numa cama. grande, enorme, de casal.
mais tarde ainda, numa individual, pequena, que rangia, mesmo no silêncio dos sonhos.
Agora  esta, a nova, cheira a móveis suecos. 
tem um rebordo que está disfarçado debaixo de uma colcha colorida. ainda sem se adaptar à cama nova, que cheira à loja de moveis suecos e à sua colcha que tudo tapa, bate com as pernas distraídas nas esquinas da cama,
anda com as pernas negras,
anda com as pernas com feridas da cama nova,
todos os dias, a cada nova batidela, promete-se ter mais cuidado, mas todos os dias a colcha tapa as esquinas de cheiro sueco e nova marca cai na perna.
hoje deita-se na cama, massaja a nódoa negra. ri-se de as fazer na cama e promete, mais uma, vez ter mais cuidado.

sábado, 8 de setembro de 2012

Ali...

Ela saiu de casa. tinha a mala cheia de lixo, tabaco, chaves de casa e o telemóvel não.
saiu de casa e foi cheirar as ruas.
levava nos pés os olhos de lisboa e caminhava com os olhos postos em Barcelona.
sentou-se, o coração a bater muito, a sorrir de ansiedade.
saudades misturadas com curiosidade.
voltar não, mas se ao menos pudesse passar só a noite de sábado ali.
ligar-lhe-ia e iam beber uma cerveja.
ali.
ligar-lhe-ia e ia tocar-lhe no braço quando se cumprimentassem.
ali.
iria comer a comida caseira, ouvir as mesmas palavras e rir das mesmas piadas.
ali.
estaria na sua casa, com os seus pés em lisboa e com os olhos em Barcelona.