sexta-feira, 27 de março de 2009

John Taylor Trio na CULTURGEST


Sendo eu uma pessoa que não consegue fazer um desenho que se pareça, minimamente, com a realidade e que não consegue tocar nenhum instrumento, é para mim fascinante ver como em quatro traços se desenha uma paisagem ou como, com as mãos a tocar numa bateria, num piano ou num contra baixo saem sons como os que ontem ouvi.

Sugestão do meu pai, depois de um dia cansativo, lá fomos os dois para a Culturgest.
John Taylor Trio.
Os menores de 30 anos pagam apenas € 5 e há que aproveitar a benesse antes que o tempo passe demasiado rápido.
O músico, pianista, era John Taylor. Muito bom, muito reputado e famoso (daí ser o seu trio!). Participação em mais de 80 discos (como é que há tempo??). O nome justificou a casa cheia.
O saldo foi positivo. Muito bom. Mas os meus ouvidos incultos para jazz acusaram alguns tons menos harmónicos. Assim que passavam do suave, do equilibrado e avançavam para o lado mais free (é suposto dizer-se assim…), eu achava que se tinham distraído e começado os 3 a tocar para si próprios. Que inculta…
Ainda assim, analisando cada um individualmente:o baterista Martin France pareceu-me muito bom. Acho fascinante que apenas com 2 mãos e 2 pés tenha conseguido fazer ao mesmo tempo tantos sons diferentes.
O pianista, o John Taylor era o artista por excelência. Entretive-me a olhar para os pés dele e para a sua expressão corporal enquanto tocava e enquanto os companheiros tocavam. O músico por excelência.
Mas o meu preferido foi o baixista. Volto a dizer, sem qualquer conhecimento na matéria. Não sei explicar o efeito que o baixo tem em mim. Seja que concerto for, se houver baixo ou contra baixo e fico a olhar para lá. Impressionada com o instrumento, com o som que sai, com a facilidade com que o tocam. O senhor Palle Danielsson não foi excepção. Sueco de ar simpático, teve a minha atenção a maior parte do tempo.

Já meio ensonada, mas animada, a cereja no topo do bolo foi encontrar aos primos á saída do concerto.
E lá estava também o primo músico, sempre bem disposto. O qual, daqui a não muito tempo, hei-de ver no palco e apreciar (e muito) com um bocadinho mais de conhecimento!

terça-feira, 24 de março de 2009

Para quem quiser e merecer


O meu gosto musical não é muito eclético.
Tenho o amor de sempre, as paixonites sazonais, os bons amigos para as ocasiões e os ódios de estimação. Até tenho os amores à primeira vista, em que fico caída por uma só música, a única daquele banda, e em que não gosto de mais nada.
Esta paixão é recente mas sua música é muito antiga. Chama-se Bob Dylan.
Sim, é tarde para despertar para estas músicas, eu sei… mas mais vale tarde do que nunca.
No meu ipod há, neste momento, 718 músicas, todas escolhidas por mim, todas por mim muito apreciadas, mas neste momento (ou será só hoje?) nenhuma me cai tão bem no ouvido como as do Sr. Dylan.
Não sei se estarei com a minha veia hippie mais arreganhada, se estou num clima em que me apetece ouvir musica assim… sei que num dia em que a M80 (rádio que até podia ter a sua piada, não fosse 90% das músicas ser do mais parolo que há!) é a banda sonora da minha sala de trabalho, só o ipod, a tocar bem mais alto do que devia, me traz algum ânimo.
O Sr. Bob é em parte responsável por isso. Acho que até escreveu músicas para mim. (Mesmo que eu não tivesse nascido ainda…)
Gosto muito muito de todas (só as que aqui tenho, porque há umas verdadeiramente assustadoras), mas elejo como música do dia a Like A Rolling Stone, lançada em 1965 (16 anos antes do meu nascimento, portanto) e que é sobre alguém que não se tornou bem naquilo que pensava….
Aqui ficam as sábias palavras do senhor, dirigidas a quem quiser… (e merecer!)
How does it feel

How does it feel

To be on your own

With no direction home

Like a complete unknown

Like a rolling stone?

segunda-feira, 23 de março de 2009

Gran Torino


Mais um domingo de Março e a família toda decidiu ir ao cinema.
Todos juntos já somos muitos.
Ida ao UCI, porque não se paga parque aos Domingos e porque tenho desconto com o cartão.

O filme foi o Gran Torino de, e com, o Clint Eastwood.
Não desiludiu. Pelo menos a mim nunca desilude… é verdade.

Filme simples, sem margem para muita discussão. É como é. Por isso gostei tanto.
O tema principal é polémico, mas já muito comum.
E o Clint, regressado aos velhos tempos, de homem duro, sofrido e antipático. Rosna o filme todo, mas é capaz, nos momentos certos, das atitudes mais bonitas.
A mim fez-me pensar, principalmente, na velhice, na solidão. Mais que no racismo. Fez-me pensar que somos o que somos e que, dificilmente, mudamos.
A minha interpretação é que, no fundo a personagem, o Walt, não se suavizou, manteve-se igual a si mesmo. Sempre foi assim e a velhice acentua isso mesmo. No fim, foi fiel a si mesmo.
Volto a dizer, gostei mesmo muito.
Gostei de chorar em conjunto com a família. De sair e ter a discussão normal com todos eles. De ouvir cinco diferentes leituras.
Gostei, também, de chegar a casa e ter o James a dar ao rabo e encostar-se às minhas pernas, tipo gato, a pedir festas. E assim, sem mais, qualquer vestígio de melancolia deixado pelo filme se desvaneceu.
Não se desvaneceram as saudades das pessoas que a aquele filme me trouxe.
As saudades dos velhos rabugentos, conservadores, que também rosnavam com a vida.
Os velhos, que entre rosnadelas, eram capazes dos mais pequenos gestos que bastavam para animar o meu dia.

sexta-feira, 13 de março de 2009


Viver no Campo dos Mártires da Pátria não tem nada de martirizante (piada fácil!), antes pelo contrário.


Viver ali significa acordar com os galos a cantar (bem cedo, é certo), ter sol, o dia todo, em qualquer divisão da casa e ter vista para um jardim cheio de árvores.


Significa que se está no centro da cidade mas, ainda assim, se cumprimenta o sr. da loja das chaves, a senhora do café (que agradece sempre com um belo: obrigadinhos) e que já se foi a casa de todos os vizinhos.

Pode sair-se de casa a pé, andar no elevador do Lavra (infelizmente agora parado), beber café na esplanada da Xuventude da Galicia ou, simplesmente, deixar-se estar no jardim do Torel e ter uma das melhores vistas sobre a cidade de Lisboa, sem ouvir sequer o barulho de carros.

Pode passear-se a pé pela freguesia da Pena e de S. José, constatar, com pena, que 50 % das casas está abandonada e, ainda assim apreciar, com gosto, as casas recuperadas.

Viver no Campo dos Mártires da Pátria é ter todas as comodidades da cidade de Lisboa a par de algumas regalias do campo. Observar com curiosidade as senhoras que rezam fervorosamente ao Dr. Sousa Martins e lhe põem velas e flores. Ver os cinco gansos do lago sempre juntos e o pavão, que já recuperou as penas da Primavera, fazer danças para quem quiser ver. Descobrir, sempre no mesmo canto do jardim, os velhotes que jogam às cartas e discutem os resultados da jornada. Em breve virão os patinhos e os pintainhos, que passeiam alegremente pelo jardim, atrás das mães e que fazem as delícias de todos os transeuntes (especialmente eu!).

Os únicos mártires daquele campo são as dezenas pessoas que todas as semanas se sentam e deitam nos bancos do jardim. Tristes, doentes, velhas. Olham para nós, mas não nos vêem. Só elas me lembram que estou mesmo no centro de uma grande cidade.

Ainda assim, comemoro os excelentes 365 dias que já se passaram desde que me mudei para o Campo Mártires da Pátria.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Tondela.


Tondela não tem, na realidade, nada de especial e, ainda assim, tem, para esta Lisboeta, imenso encanto.
Terra perto da serra Caramulo, perto de Viseu, a que se chega com alívio depois da viagem atribulada pelo IP3.

Terra de boa comida, de tempo gelado no Inverno e muito quente no Verão.

Terra onde se pode ir a pé a quase a todo lado, onde se pode sair à noite à vontade e onde se pode voltar para casa, aos tropeções, às quatro da manhã, sem ninguém reparar e nem sequer nos ver.
Terra onde se conhece gente bem disposta, que nos leva pela serra acima, e que, com sabedoria, conduz a direito numa estrada cheia de curvas.

Para quem não conhece é capaz de não ser mais que uma terra qualquer, perdida nas Beiras, mas para mim é a terra da família, dos primos, dos tios e dos avós. Onde sempre se come o pequeno-almoço, o almoço, se lancha e janta, sempre em quantidades similares.
Onde se bebe Quinta de Cabriz ou groselha bem gelada.

Terra de pinhais, de matas e feiras à segunda-feira de manhã.
Terra onde sempre se pode assistir a muitos concertos, teatros e festas. E onde no verão se fica em casa a dormir a sesta.
Lugar de repouso, de sossego.

Tondela