sexta-feira, 13 de março de 2009


Viver no Campo dos Mártires da Pátria não tem nada de martirizante (piada fácil!), antes pelo contrário.


Viver ali significa acordar com os galos a cantar (bem cedo, é certo), ter sol, o dia todo, em qualquer divisão da casa e ter vista para um jardim cheio de árvores.


Significa que se está no centro da cidade mas, ainda assim, se cumprimenta o sr. da loja das chaves, a senhora do café (que agradece sempre com um belo: obrigadinhos) e que já se foi a casa de todos os vizinhos.

Pode sair-se de casa a pé, andar no elevador do Lavra (infelizmente agora parado), beber café na esplanada da Xuventude da Galicia ou, simplesmente, deixar-se estar no jardim do Torel e ter uma das melhores vistas sobre a cidade de Lisboa, sem ouvir sequer o barulho de carros.

Pode passear-se a pé pela freguesia da Pena e de S. José, constatar, com pena, que 50 % das casas está abandonada e, ainda assim apreciar, com gosto, as casas recuperadas.

Viver no Campo dos Mártires da Pátria é ter todas as comodidades da cidade de Lisboa a par de algumas regalias do campo. Observar com curiosidade as senhoras que rezam fervorosamente ao Dr. Sousa Martins e lhe põem velas e flores. Ver os cinco gansos do lago sempre juntos e o pavão, que já recuperou as penas da Primavera, fazer danças para quem quiser ver. Descobrir, sempre no mesmo canto do jardim, os velhotes que jogam às cartas e discutem os resultados da jornada. Em breve virão os patinhos e os pintainhos, que passeiam alegremente pelo jardim, atrás das mães e que fazem as delícias de todos os transeuntes (especialmente eu!).

Os únicos mártires daquele campo são as dezenas pessoas que todas as semanas se sentam e deitam nos bancos do jardim. Tristes, doentes, velhas. Olham para nós, mas não nos vêem. Só elas me lembram que estou mesmo no centro de uma grande cidade.

Ainda assim, comemoro os excelentes 365 dias que já se passaram desde que me mudei para o Campo Mártires da Pátria.

1 comentário:

  1. É um belo bairro e não me importava de lá viver, até porque é perto do meu bairro actual (mesmo sem a fauna que descreves, também é simpático).
    Estás a esquecer-te de uma das vantagens, a proximidade do Goethe, cujo restaurante é muito bom.
    E para ser picuinhas, sempre podes também dizer que moras entre dois hospitais, o que pode facilitar a assistência médica em caso de emergência. Só vantagens.

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